quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Heterónimo, Ricardo Reis


Ricardo Reis (19 de setembro de 1887) é um dos quatro heterónimos mais conhecidos de Fernando Pessoa, tendo sido imaginado de relance pelo poeta em 1913 quando lhe veio à ideia escrever uns poemas de índole pagã. Nasceu no Porto, estudou num colégio de jesuítas, formou-se em medicina e, por ser monárquico, expatriou-se espontaneamente desde 1919, indo viver no Brasil. Era latinista por formação clássica e semi-helenista por autodidactismo. Na sua biografia não consta a sua morte, no entanto José Saramago faz uma intervenção sobre o assunto em seu livro O Ano da Morte de Ricardo Reis, situando a morte de Reis em 1936.


Poema “Acima da Verdade” , de Ricardo Reis, Heterônimo de Fernando Pessoa


ACIMA DA VERDADE estão os deuses.
A nossa ciência é uma falhada cópia
Da certeza com que eles
Sabem que há o Universo.

Tudo é tudo, e mais alto estão os deuses,
Não pertence à ciência conhecê-los,
Mas adorar devemos
Seus vultos como as flores,

Porque visíveis à nossa alta vista,
São tão reais como reais as flores
E no seu calmo Olimpo
São outra Natureza.


Análise:

O poema “Acima da Verdade” de um dos heterônimos de Fernando Pessoa, Ricardo Reis, apesar de enquadrar-se temporalmente ao Modernismo português, possui grandes características do Arcadismo por apresentar forma fixa (uma ode que contém três estrofes de quatro versos) e versos brancos (existe a métrica – em todas as estrofes a disposição da métrica é a mesma: os dois primeiros versos são decassílabos e os dois últimos, pentassílabos - e não existem as rimas externas). Além disso, há uma valorização da cultura greco-romana, pela exaltação dos deuses.

Em relação ao conteúdo, o “eu-lírico” afirma que se a ciência é uma verdade, os deuses são mais ainda (idéia hiperbólica), pois aquela, apesar de ser verdadeira, possui falhas, diferente dos seres mitológicos que são perfeitos. Então, não cabe a ciência tentar desvendar esses mistérios dos deuses, mas adorá-los.



Poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio"


Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Análise:

1ª estrofe:
 
Com relação a essa primeira estrofe, pode-se dizer que o sujeito poético está em busca de uma felicidade, e ela é relativa, uma vez que só é encontrada na natureza e nas coisas simples – remetendo-nos, portanto, ao epicurismo.
As expressões “beira do rio” e “sossegadamente fitemos o seu curso” remetem-nos ao aurea mediocritas e ao carpe diem horacianos, respectivamente, uma vez que refere-se à vontade de querer aproveitar o momento, e isso só é possível se feito diante da natureza, ao observar o rio correr.
Por meio da expressão “que a vida passa”, o sujeito poético propõe à pastora Lídia sentar-se com ele para observar o decorrer da vida, colocando o curso do rio como metáfora do passar da vida.
Com relação ao último verso dessa primeira estrofe, o eu lírico propõe à pastora que eles se amem.
 
 
2ª estrofe:
 
Nessa segunda estrofe, percebe-se nitidamente a importância que o pensamento tem para o sujeito poético já no primeiro verso. É possível perceber, também, um certo fatalismo, em que ele diz que “[a vida] Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa”, ficando implícito que o fluxo da vida é sem volta, e assim como o rio segue seu fluxo a caminho do mar, a vida caminha rumo à morte.
A palavra “Fado”, no fim do terceiro verso, remete-nos ao destino, do qual nem os deuses escapam. Além disso, há referência aos deuses, o que nos remete ao paganismo greco-romano de que se dispõe o autor.

para consultar o poema todo clique aqui: http://solinguaeliteratura.blogspot.pt/2013/05/analise-do-poema-vem-sentar-te-comigo_4.html 

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