sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Memoria ao Conservatório Real

O Conservatório de Arte Dramática foi criado pela rainha D. Maria II por um decreto de 15 de novembro de 1838. Ficou estabelecido que este incluiria escolas de Artes Dramáticas, Música, Dança, Mímica e Ginástica Especial.
A Memória ao Conservatório Real foi lida, por Almeida Garrett, em conferência no Conservatório Real de Lisboa, a 6 de maio de 1843, a propósito do Frei Luís de Sousa.
Nessa altura, também o texto de Frei Luís de Sousa foi dito a uma só voz, a de Garrett, para os seus pares do Conservatório. O próprio Almeida Garrett reconheceria, mais tarde, que o facto de o seu drama ter tido "favorável juízo do Conservatório" ajudou a que começasse a ser "benquisto do público antes ainda de lhe ser apresentado". 

Na Memória ao Conservatório Real, Almeida Garrett compara "a desesperada resignação de Prometeu" e os remorsos de Édipo nas tragédias da antiguidade clássica e conclui que não são superiores aos "tormentos de coração e de espírito" que aqui padece Manuel de Sousa Coutinho, "o amante delicado, o pai estremecido, o cristão sincero e temente do seu Deus". Compara ainda os terrores de Jocasta (que "fazem arrepiar as carnes, mas são mais asquerosos do que sublimes") com a dor, a vergonha, os sustos de D. Madalena de Vilhena que "revolvem mais profundamente no coração todas as piedades". 
Afirma que o conteúdo do Frei Luís de Sousa tem todas as características de uma tragédia. No entanto, chama-lhe drama, por não obedecer à estrutura formal da tragédia. Refere a peça Comédia Famosa a que assistira, na Póvoa de Varzim, sobre o mesmo tema, representada por atores castelhanos.
Nesta Memória ao Conservatório, Almeida Garrett apresenta o seu drama romântico Frei Luís de Sousa como derradeiro "trabalho dramático". Este texto constituiria, assim, o balanço da sua intervenção na renovação do teatro em Portugal e uma reflexão sobre a herança clássica e as influências românticas.

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