domingo, 5 de janeiro de 2014

Os Maias - Jornal "Corneta do Diabo" e " A Tarde"

Jornal “A Corneta do Diabo” – cap. XV

Contextualização do episódio

  • Carlos vive com Maria Eduarda num clima de felicidade, nos Olivais, enquanto o avô Afonso está em Santa Olávia.
  • Recebe, através do Ega, um número da Corneta do Diabo, que o difama em calão "num caso que tem com uma gaja brasileira".
  • Ega conseguira travar a tiragem do jornal, a troco de dinheiro.
  • Carlos primeiro pensa em matar a quem escreveu mas, refletindo na verdade dos escritos, pensa se não será melhor não casar com Maria Eduarda.
  • Volta ao primeiro pensamento: matar o autor do artigo.
  • Descobre, pelo editor do artigo, o Palma “Cavalão”, que tinham sido o Dâmaso e o Eusébiozinho que lho tinham encomendado.
  • Ega e Carlos vão até o Grémio, onde pedem a Cruges que faça de padrinho num duelo de Carlos.
  • Cruges e Ega vão a casa do Dâmaso. Este faz uma cena ao saber do desafio, mas acaba por aceitar escrever uma retratação. Ega escreve-a e ele copia-a.
  • Na retratação, Dâmaso afirma ser falso tudo o que fizera publicar, devendo-se o artigo a um estado de embriaguez, hábito hereditário.
  • Ega entrega a retratação a Carlos. Satisfeito, Carlos devolve-lha, para usar como lhe aprouver.


Análise do episódio

  •  A Corneta do Diabo aparece como um jornal de maledicência e de escândalos. O narrador afirma que “na impressão, no papel, na abundância dos itálicos, no tipo gasto, todo ele revelava imundície e malandrice”.
  • O Diretor e principal redator é Palma Cavalão, um jornalista corrupto. É nesta publicação que Dâmaso Salcede publica um artigo a satirizar a intimidade da relação de Carlos da Maia e Maria Eduarda. A suspensão da circulação deste número só é conseguida graças ao Ega e a um suborno de 100 000 réis.
  • Eça de Queirós, com o episódio de A Corneta do Diabo e mais tarde com o jornal A Tarde, retrata a parcialidade do jornalismo da época e mostra a corrupção quando o Palma Cavalão aceita, por dinheiro, denunciar o autor do artigo comprometedor.
  • O propósito queirosiano de denunciar a vida portuguesa da sociedade da época percebe-se também quando Carlos da Maia considera que "só Lisboa, só a horrível Lisboa, com o seu apodrecimento moral, o seu rebaixamento social, a perda inteira de bom senso, o desvio profundo do bom gosto, a sua pulhice e o seu calão, podia produzir uma Corneta do Diabo”.

Jornal “A Tarde” – cap. XV

 Contextualização do episódio

  • Ega estava na posse da carta de retratação de Dâmaso.
  • Junto com Carlos, decidem não a publicar, pois isso só suscitaria a curiosidade da sociedade lisboeta relativamente à relação de Carlos e Maria.
  • No entanto, Ega vê Dâmaso com “a sua” Raquel Cohen. Dominado pelo ciúme, resolve humilhar Dâmaso publicamente.
  • Dirige-se à redação do jornal A Tarde e tenta convencer o diretor, o Neves, a publicar a carta de Dâmaso.
  • Este, inicialmente recusa, pois pensa tratar-se de Dâmaso Guedes, um correligionário político. Mas quando percebe que se trata do Salcede, acede a publicar a carta, para se vingar do “manganão” que os “entalara na eleição passada”.
  • Na sequência da humilhação pública, Dâmaso parte de férias para Itália, e o assunto cai no esquecimento.


Análise do episódio

  • O jornal A Tarde aparece em Os Maias dirigido pelo Neves, deputado, político.
  • É neste jornal que Ega consegue a publicação da carta do Dâmaso, não só como represália da injúria feita a Carlos da Maia, mas também para se vingar de uma possível ligação do Salcede com a sua ex-amante Raquel Cohen.
  • Todo o diálogo do Ega com o Neves e outros funcionários do jornal lisboeta mostra a atmosfera política, o cinismo e a parcialidade do jornalismo.
  • Este está também patente na redação de uma notícia sobre o livro do poeta Craveiro, por pertencer "cá ao partido", mas sobretudo quando Gonçalo, um dos redatores do jornal, depois de exclamar "Que besta, aquele Gouvarinho!" e de o considerar "uma cavalgadura" afirma que "- É necessário, homem! Razões de disciplina e de solidariedade partidária... Há uns compromissos... O Paço quer, gosta dele...". E tudo isto acontece pois " - Há aí umas questões de sindicatos, de banqueiros, de concessões em Moçambique... Dinheiro, menino, o omnipotente dinheiro!“.

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